Velocidade do tempo... Vãos sentimentos
Dedicada ao nosso carteiro Philipp
Dentro da aldeia virtual perdi a bússola do tempo,
Da França ao Brasil navego solitária via satélite.
Basta ligar o computador para o carteiro na tela aparecer.
Leio cartas de amigos, da família, de anônimos,
Consulto os bons blogs e leio bons artigos.
Recebo muitas informações até as chatas correntes.
Acompanho tudo o que se passa no mundo,
Intervenho em debates, sem que eu tire a bunda do lugar!
Porém, ainda me sinto estrangeira nessa aldeia global...
Toca a campainha da casa... Levanto-me pra abrir a porta.
É meu carteiro todo sorridente pra me dizer bom-dia.
E diz todo contente: chegou carta do Brasil!
Digo-lhe: Coisa rara deve ser de meu pai!
O único que não perde seu tempo ao ir ao correio
Apesar da idade, com as mãos que começam a tremer,
Ele não perdeu o prazer em escrever belas cartas.
Pergunto então ao meu carteiro francês:
O que você acha da velocidade do tempo?
A internet estar matando os sentimentos?
Sim. Responde-me com ênfase!
Além disso, estar acabando com meu trabalho!
Antes eu reclamava do peso da bicicleta, era dura de pedalar!
Eu carregava noticias do mundo inteiro...
Hoje meu porta-bagagem estar quase vazio.
Carrego poucos pacotes, as cartas diminuem cada vez mais!
Só carrego o peso das cartas de cobranças!
Acabou aquela alegria de minha passagem!
Poucas damas me esperam no portão...
Acabou aquele suspense em abrir um envelope
A curiosidade de onde vinha o selo...
A vibração da alegria ao identificar a caligrafia...
E sentir o coração palpitar ao ver a carta esperada chegar!
Adeus filatelia! Ninguém coleciona mais selos.
Que sentido tem as coisas hoje?
Nesse mundo global de comunicação virtual,
As pessoas transferem para o computador seus sentimentos
Escute Madame Foucher essa que vou lhe contar:
Um dia eu perguntei para uma senhora, se tudo estava bem.
Ela disse-me: tive um vírus fatal!
Como se a senhora estar viva?
Ela riu e disse-me: falo de meu computador!
Ele pegou um vírus brabo e se apagou.
Eu chamei o doutor internet e ele não resolveu
Estou louquinha Sr. Carteiro e não sei o que fazer!
O carteiro sorrindo, pega a bicicleta e sai pedalando feliz.
Assim vai o mundo... Vãos sentimentos.
Marilza-Escrita em Viroflay-maio 2006
2 comentários:
Parabéns pela crônica.
Apenas um curioso comentário:
A Filatelia ainda existe. Tornou-se uma atividade de elite, de estudiosos, historiadores, pesquisadores, abastados, senhores ou jovens senhores, muitas vezes investidores. Colecionar selos virou uma atividade de grandes homens 'ocupados', mais até do que de pequenas pessoas, seres felizes. Migrou da população em geral para as classes mais ricas em conhecimentos e recursos. Se no passado havia as crianças e os grandes colecionadores, os mais velhos, e dentre estes os comerciantes; hoje, enquanto nossas crianças têm mil e umas atividades como jogos eletrônicos, tvs a cabo, internet etc, as outroras crianças do passado tornaram-se adultos com recursos maiores.
Colecionar na grande maioria das vezes virou atributo de enormes crianças barbadas(muito mais homens que muheres colecionam).
Colecionar virou investimento.
Nossas peças raras são reconhecidas lá fora, tanto quanto as deles aqui dentro.
A peça brasileira mais valiosa custa a ''bagatela'' de 1,8 milhões de dólares.
E assim ficou adulta a Filatelia brasileira.
(obs: A China descobriu recentemente a histérica mania de colecionar e pela população nem precisa dizer o quâo vão os preços das peças chinesas, em especial)
Um grande abraço!
José Barros
O tempo corre nas pedaladas do carteiro, a vida viaja no vácuo da internet e nossas teclas formatam a carta que vai encontrar, com pressa, a pessoa destinatária da vontade diária de estar aqui e ali, como um lençol esticado sobre o mundo, quase iludindo a própria certeza de estar só, mesmo estando aqui, na vastidão amazônica, a um passo daí, onde nunca estive, senão através da nossa conversa virtual, que de tão real, quer me fazer poeta.
Olá, Marilza!
Excelente o texto sobre o carteiro. É o tipo de personagem que me interessa muito e o tipo de pessoa com quem gosto de conversar, ou melhor, a quem gosto de ouvir. Nas pessoas simples a gente vê sentido na caminhada comum, nas lutar e no prosseguir.
O Antonio Barbosa, referido no meu texto, retrata o impacto sentido ante o 'poder do comércio' e ante o 'desenvolvimento', em uma cidade então cabocla e fraterna, ainda uma aldeia, na qual se davam mangas e bananas pelas janelas.
Hoje, apesar do crescimento e das mudanças, morar em Rio Branco ainda me cativa, pela possibilidade de passear os olhos em gente que vejo a vida toda, em gente que cresceu comigo, pela possibilidade de ter cada lugar como parte da minha própria existência.
Ando pelo Brasil todo, mas volto pra cá, como um bicho do mato que não sabe ficar longe da toca. De vez em quando, vou para o meio da floresta pescar, passo uns dias e volto pra minha rede, pros meus filhos. Ou vou para o mar, flutuo nas ondas e volto, para reencontrar com o velho Rio Acre.
O papo está longo? Não quero te cansar.
Finalizando, creio que é mais ou menos assim que pensa o Seu Mário Diogo. Por favor, quando você falar com ele, diga que o admiro muito.
Um abraço para você, outro para o Philipp.
Informe seu endereço, que te enviarei um livro, para que o Philipp o entregue.
Sucesso e alegrias!
José Augusto Fontes
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