quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Por que a vigilância na defesa da Amazônia deve continuar?

Ao vir para Paris junto com outros companheiros(as) do Para, Amazonas e Rio Janeiro fundamos do comitê internacional de defesa e desenvolvimento da Amazônia, (CIDA) que continua até hoje com seu registro de associação 1901 ( lei que rege as associações sem fins lucrativos na França). Depois de quase 30 anos percebo a vigilância na defesa da Amazônia deve continuar. As atividades do CIDA foram encerradas com a volta da maioria de nossos companheiros (as) ao Brasil. Achávamos que havíamos cumprido com nossos objetivos, tendo em vista que a causa da defesa e busca de alternativas para um outro desenvolvimento na Amazônia tinha sido abraçada por muitos inclusive por Chico Mendes com outros amigos no Acre que faziam resistência às políticas devastadoras. Os MDAs (movimento de defesa da Amazônia) se espalhavam pelo Brasil. Nossos gritos de protestos saíram das fronteiras brasileiras e a Amazônia entrava para cena internacional. A eco-92 representava um compromisso com as causas que defendíamos.

Tudo levava a acreditar que com o processo de democratização do Brasil a questão das políticas desenvolvimentista para a Amazônia iria mudar. Esperava-se que os governos locais e governo federal tomariam consciência do enorme patrimônio ecológico e cultural da região e passariam a valoriza-lo optando por um desenvolvimento com visão mais integrada respeitando a biodiversidade e sócio-diversidade da região.

Entretanto, hoje relendo a imprensa internacional e alguns artigos, vejo que depois de tantos anos de combate, a agressão aos ecossistemas amazônicos continua. Todavia vale ressaltar e levar em conta inúmeros avanços que deram origem a vários eventos e iniciativas, entre estes a realização da eco92 no Rio, a criação da agenda 21. Assim como, a grande pressão dos movimentos sociais e ongs responsáveis de desenvolvimento junto aos governos democráticos do Brasil para que a Amazônia constasse em nossa Constituição Federal. Graças a eles hoje ela integra o § 4º, do Artigo 225 da Constituição Federal.
"A Floresta Amazônica é patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais".
Apesar de certos avanços, ainda necessita-se levantar a voz, gritar nos ouvidos das autoridades máximas da nação brasileira representadas nos três níveis (federal, estadual, municipal) para aplicação da Constituição! Chamar atenção para que eles empreendam políticas regionais capazes de parar a lógica da devastação e da destruição do patrimônio eco-cultural. O exemplo mais gritante foi à autorização do plantio da soja na Amazônia por Fernando Henrique Cardoso, isto foi um grande erro, mas, infelizmente não houve muita mobilização contra esse plano. Como controlar o uso da soja transgênica na Amazônia? Que fiscalização existe nesse sentido junto aos agro-busines da soja presentes na região? Como delimitar e proibir sua extensão na região? A mesma coisa para a expansão dos campos de pastos, existem outras alternativas fora da concepção da ditadura militar que via o progresso amazônico carimbado pelas patas de boi e vaca!
Para a defesa de nosso patrimônio ecológico e da diversidade biológica e cultural teremos que defender e pôr em prática a filosofia do desenvolvimento territorial integrado, solidário e sustentável. Não podemos ter uma visão setorializada do desenvolvimento, dai o fracasso das políticas desenvolvimentistas que partem sempre do principio econômico.
Ao mesmo tempo temos que denunciar os que se apropriam do desenvolvimento sustentável com finalidade do marketing ecológico sob o controle logicamente de resultados econômicos. Existem algumas associações que atuam nesse sentido na Amazônia travestidas de ecológicas que pregam o desenvolvimento sustentável e que estão faturando em cima do “rótulo” com nossas essências florestais que ao meu ver devem ser também fiscalizadas. Os governos locais, a sociedade civil organizada deve verificar se elas estão fazendo replantio dessas arvores e se a população local estar sendo beneficiada e educada ao manejo florestal para o uso ecológico da floresta. Urge verificar a contabilidade dessas associações que às vezes se passam como Ongs ambientais sem fins lucrativos. Justamente para que elas não deturpem a imagem de muitas Ongs que atuam na região e agem com uma visão holística do desenvolvimento e lutam pela inclusão social das populações amazônicas.
Quando se atua com uma visão sistêmica do desenvolvimento não se separa o ecológico do político, do cultural, do social e do econômico. A economia estar a serviço do gênero humano que protege a biodiversidade e sociodiversidade. Os ecossistemas fazem parte integrante de nossa existência.
Nasci em Boca do Acre, como toda criança amazônica nascida no interior, a floresta é parte integrante de minha vida, carregada de forças sagradas, de mitos que alimentaram meu imaginário infantil. Minha convivência com o verde em todas suas tonalidades imprimiu um estilo de vida e cultura marcada pela esperança e uma forma de liberdade e convivência espontânea com a natureza. Daí meu eterno combate, pois faço parte também das mulheres guerreiras! Minha floresta de convivência, de símbolos, mitos, minha cultura amazônica não pode continuar a ser agredida, destruída sem escrúpulos.

Faço um clamor aos movimentos sociais, ao mundo associativo das Ongs comprometidas com o desenvolvimento territorial integrado e sustentável, Ao mundo acadêmico da região e a nível nacional, as organizações indígenas, aos partidos políticos comprometidos com a inclusão social e progresso para todos que não baixem o nível de vigilância na defesa da integridade ecológica da Amazônia. O governo Lula altamente legitimado pelo voto na região deve dar todas as condições necessárias para a sustentabilidade ecológica, cultural, social, econômica e política da região. Cobrar resultados dos projetos governamentais a curto, médio e longo prazo é um dever nosso no exercício da florestania/cidadania. As reformas não reformam quando os atores do desenvolvimento não estão preparados ao exercício da cidadania.

Vamos continuar a denunciar todos os dias os que continuam agredindo sues ecossistemas e as culturas do povo da floresta, vamos continuar propondo alternativas para um desenvolvimento Territorial integrado, solidário e sustentável para a Amazônia

Marilza de Melo Foucher
Dra. Em Economia-Sorbonne
Consultora internacional





2 comentários:

Luiz Alberto Machado disse...

Olá, me deliciei com o seu blog, muito bom. Estarei indicando nas minhas páginas. E quando puder confira as novidades: as previsões do Doro para 2008 no blog Tataritaritatá; novidades de clipes e mp3 na Música; e muitas outras novidades no Guia de Poesia, nos Blogs, enfim, tudo na minha home page abaixo. Vou adorar sua visita e comentários.
Beijabrações, bom feriadão neste final de semana & tataritaritatá!!!
www.luizalbertomachado.com.br

Anônimo disse...

Seus versos são gostosos de ler e transmitem coisas boas. Também, não é para menos, és filha da Amazônia. Tua terra impressionou-nos positivamente.Tenho recebido fotos por satélite que denunciam o descaso ambiental. Um abraço bem gaudério. Marco Aurélio.

Blog: Ocio Criativo
Postagem: Por que a vigilância na defesa da Amazônia deve continuar?
Link: http://ociocriativommf.blogspot.com/2007/10/por-que-vigilncia-na-defesa-da-amaznia.html